sexta-feira, novembro 21, 2008

AQUI NÃO HÁ PORCOS!

Na sequência do brilhante artigo publicado na Visão da semana de 20 de Novembro, passa a publicar-se a seguinte carta, que foi enviada ao Sr. jornalista.


Exmo. Sr. Luís Ribeiro,

O meu nome é “X” e faço parte de uma claque de futebol.
Antes de mais considere uma honra poder ler estas palavras. Não pelo facto de serem escritas por um ser "animalesco" como eu, cito "besta quadrada, com o QI de uma galinha e a subtileza de uma ratazana faminta", mas sim porque os insultos gratuitos que escreveu no seu artigo de opinião nem merecem resposta. Contudo, e tendo em conta os acontecimentos da última semana e, a catadupa de asneiras e chorrilhos de mentiras que tenho lido na comunicação social, vou-me dar ao trabalho de lhe responder.
Ora, estava eu a preparar-me para mais um serão, sento-me no sofá, pego na Visão e deparo-me com o seu artigo. O título é apelativo: O Triunfo dos Porcos.
O seu artigo, Sr. Luís Ribeiro, é ridículo, deselegante e pobre em conteúdo! O retrato que faz da maioria dos grupos organizados em Portugal e sobretudo dos seus membros, não podia estar mais desajustado da realidade. Percebo que para alguém pouco informado sobre este assunto seja fácil cair na generalização idiota, mas de um jornalista, com uma educação muito acima de "rasteira", esperava mais do que argumentos estéreis. Pelo menos esperava que se incomodasse em basear a sua opinião em FACTOS e não em estereótipos pré-concebidos, que consigo ouvir à borla na mesa de qualquer café, sem ter de desembolsar 2,80eur pela revista.
Ao contrário do que afirma as claques não são hordas de vândalos que seguem a máxima "macaco vê, macaco faz". Não somos todos delinquentes. Não somos todos provenientes de bairros sociais e, mesmo que fossemos, isso não seria sinónimo de falta de civismo. Não, a GRANDE MAIORIA não se dedica ao tráfico de drogas, armas ou outro tipo de mercadoria ilícita. Não, o objectivo de vida de 95% dos ultras nacionais não é andar a brincar ao "Clube de Combate"!
Enoja-me ver a facilidade com que se crucificam as claques. É chocante a falta de inteligência de quem fala sobre estes assuntos e quantidade de imbecilidades e mentiras que se lêem nos pasquins deste país. Nem tão pouco as televisões acertam nas imagens da claque em questão! Se é claque merece o extermínio!
No meio dos disparates que escreveu, ressalvo a citação do antropólogo Daniel Seabra: "sobressai um discurso que generaliza, trata todos por igual e sobrevaloriza o que de pior têm as claques". Aqui você esteve bem: deixou que alguém que sabe falasse por si. Excelente!
Vamos, então, à outra metade dos factos. Sim, pontualmente existe violência associada ao futebol, em que estão envolvidos grupos organizados de adeptos e, sim, nas claques existem pessoas que praticam actividades ilícitas. Mas não é esta a sociedade que temos? Porque haveriam as claques de estar imunes a estes fenómenos que perpassam a sociedade actual? Existem políticos corruptos, polícias corruptos, gestores corruptos, médicos corruptos e também ultras corruptos. E que fique bem claro que todos eles devem responder perante a justiça. Mas daí a tomar o todo pela parte, quando esta última é claramente uma minoria, é algo que me revolta e insulta, de forma surda e cobarde.
Não se passa um dia em que não trabalhe em prol do meu grupo, nem uma hora em que não pense numa forma mais eficiente de apoiar o meu clube. Actualmente não tenho muita disponibilidade para me deslocar a outras estádios, mas marco presença assídua em Alvalade, seja qual for a hora do jogo ou o dia da semana, faça chuva ou sol. Tenho as cotas em dia, pagas por mim, todos os meses do ano e a dobrar em Dezembro. Pago as minhas deslocações a Alvalade e fora também, quando tenho possibilidade de ir. Nunca recebi um tostão do meu clube. Não quero. O facto de funcionarmos como grupo permite reduzir as despesas individuais. Nunca me envolvi em qualquer tipo de confronto violento com ninguém. Não me identifico com esse tipo de acções. Para mim, ser ultra é apoiar.
Este é o meu retrato. Como eu, conheço às centenas: jornalistas (colegas seus! quem diria que tem colegas "porcos"), médicos, informáticos, vendedores, lojistas, enfermeiros, advogados, etc... cada um com a sua profissão, mas com a mesma paixão pelo seu clube.
Não somos ralé, escumalha, nem o cancro do futebol!
Da próxima vez que se referir a Orwell, não se fique pelo título e leia mais algumas páginas. É que "todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros".

Cordialmente,

"X"